DOI: 10.5433/1981-8920.2012v17n2p172 O CAMPO PROFISSIONAL DA GESTÃO DA INFORMAÇÃO EL CAMPO PROFESIONAL DE LA GESTIÓN DE LA INFORMACIÓN Ana Maria Barcellos Malin -anamalin@terra.com.br Doutora em Ciência da Informação -IBICT/UFRJ Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro RESUMO Introdução: A gestão da informação, abordagem tardia da informação como objeto de interesse, materializa-se hoje, no Brasil, como um campo profissional, tanto do ponto de vista educacional como ocupacional. Tornando-se chave para o mercado de trabalho, consolida um mandato de conhecimento. Objetivo: Identificar instituições concretas relacionadas ao atual campo educacional e profissional da Gestão da Informação no Brasil. Procedimentos Metodologicos: Os indicadores de tendências nesse sentido foram obtidos de pesquisa exploratória realizada através de busca sistemática e formal na web brasileira. Resultados: Os resultados apontam as tendências de abordagem multidisciplinar no ensino e de estruturação do mercado de trabalho a partir dos cargos, vagas e concursos promovidos, sobretudo, pelo setor público no Brasil. Conclusão: Conclui sobre a necessidade de a Ciência da Informação se debruçar e aprofundar a pesquisa sobre questões derivadas dessas tendências na sociedade brasileira, tanto em relação à formação educacional e profissional como no tocante à relação entre gestão da informação e gestão pública no país. Palavras-chave: Gestão da Informação. Formação Profissional. Mercado de Trabalho. Brasil. INTRODUÇÃO A proposta de gerenciar informação guarda múltiplas interpretações que disputam espaço como solução para o atual ambiente organizacional e institucional, com entendimentos deslizantes e instáveis. Inf. Inf., Londrina, v. 17, n.2, p. 172 – 187, maio/ago. 2012. http:www.uel.br/revistas/informacao/ Ana Maria Barcellos Malin O campo profissional da gestão da informação. Por se tratar de um campo multidisciplinar, apoiado por diversas comunidades de profissionais, reflete visões e ênfases de diferentes necessidades dentro das organizações. Por ser produto da acelerada divisão do trabalho intelectual em curso, desde que foi cunhada a expressão e formatado o conceito de “Gestão da Informação”, novas categorias gerenciais congêneres – como gestão do conhecimento, do capital intelectual, de ativos informacionais – surgem e sobrepõem-se em uma verdadeira teia terminológica (BARBOSA, 1998; MALIN, 2006). Por outro lado, a informacionalização do trabalho social faz com que os processos de informação passem a ser reconhecidos como plano constitutivo de todas as atividades e se confundam com as demais perspectivas organizacionais (CASTELLS, 1999; GONZÁLEZ DE GOMEZ, 1999). Neste cenário, ao mesmo tempo em que crescem necessidades de soluções operacionais, é difícil estabelecer escopos disciplinares e funcionais para a gestão da informação, que engloba recortes visíveis e explícitos e outros menos visíveis. Há também o próprio objeto, informação, com sua polissemia extensamente tratada pela literatura da Ciência da Informação e suas consequências sobre o conceito de informação a ser gerida (VREEKEN, 2005). E a confusa amplitude do hoje prestigioso leque de ações nomeadas como gerenciais (GAULEJAC, 2007). A resultante aparece como um dinâmico caleidoscópio de recortes, conceitos e práticas sobre o qual a Ciência da Informação vem se debruçando. No Brasil, Pinheiro (2006) mostra o expressivo aumento da produção científica nacional sobre temas interdisciplinares entre Ciência da Informação e Administração. Valentim (2008) e Barbosa (1988) abordam especificamente a produção no campo da gestão da informação (GI) e gestão do conhecimento (GC) e discutem escopos dados pelo ambiente organizacional. Outros autores da área tratam das origens, conceitos, aspectos disciplinares e multidisciplinares, ferramentas práticas e impactos organizacionais (CIANCONI, 2001; DANTE, 2008; MORAES; ESCRIVÃO FILHO, 2006; TOMAÉL, 2008). Um dos problemas centrais para o refinamento da teoria e da prática nas ciências sociais, conforme afirma Freidson (1995), consiste em relacionar conceitos amplos e abstratos com instituições humanas empíricas. Segundo esse autor, [...] intuitivamente, esses conceitos nos atraem e, talvez porque sejam amplos e abstratos, nós os utilizamos para explicar muitas coisas. Mas, se não podem ser sistematicamente relacionados com instituições concretas, nos arriscamos ao idealismo filosófico, ou a tomar a retórica pela análise (FREIDSON, 1995, p. 1). Inf. Inf., Londrina, v. 17, n.2, p. 172 – 187, maio/ago. 2012. http://www.uel.br/revistas/informacao/ Ana Maria Barcellos Malin O campo profissional da gestão da informação. Este artigo pretende trazer uma contribuição às discussões que vêm sendo travadas no âmbito da Ciência da Informação na direção apontada por Freidson, buscando identificar instituições concretas relacionadas ao atual campo educacional e profissional da Gestão da Informação no Brasil. São apresentados resultados quantitativos e qualitativos da pesquisa empírica realizada a partir de uma amostra de cerca de 1.400 notificações obtidas através do serviço de Alerta do Google na web brasileira, entre agosto de 2009 e maio de 2010, com o objetivo de monitorar tendências no mercado de trabalho (vagas e cargos) e formação profissional (graduação e pós-graduação) relacionadas à gestão da informação. MARCOS RETROSPECTIVOS SOBRE GI Os caminhos através dos quais se constitui e nomeia Gestão da Informação apontam ser uma abordagem que incorpora o objeto informação tardiamente, como tema já maduro em outros campos de estudo. Alguns marcos notórios podem dar suporte a esta afirmação, como os selecionados no Quadro 1. Se nas décadas de 1940/1950 a informação ganhou destaque para cientistas, nas décadas de 1960 e 1970 a relevância das atividades de informação provocou interesse dos pesquisadores sociais, com o surgimento da Ciência da Informação e os estudos gerados a partir da ideia de que a economia e a sociedade podem se organizar em torno da produção, distribuição e consumo da informação (REINA, 1996; ROSZAK, 1988). Inf. Inf., Londrina, v. 17, n.2, p. 172 – 187, maio/ago. 2012. http://www.uel.br/revistas/informacao/ Ana Maria Barcellos Malin O campo profissional da gestão da informação. Quadro 1: Marcos indicativos das abordagens sobre o objeto informação. Problemática abordada Marcos indicativos Organização da Informação 1945 -Vannevar Bush (EUA) publica As We May Think Comunicação da Informação 1948, Claude Shanon (EUA) publica A mathematic theory of communication Automação da Informação 1948, Norbert Weiner (EUA) publica Cybernetics Ciência da Informação 1948, fundado o Institute for Information Scientist (Inglaterra) Economia da Informação 1960, Fritz Machlup publica The production and distribution of knowledge in the United States; Formação Social 1973, Daniel Bell (EUA) publica The Coming of Post- Industrial Society Planos e Políticas Nacionais 1963, Governo Federal dos EUA publica o Weinberg Report; 1972/79, Governos do Canadá, Japão e França publicam respectivos planos Gestão da Informação 1985, Governo Federal EUA publica a Circular A-130 Fonte: Adaptado de Malin (2006). Nas décadas de 1970 e 1980 a informação torna-se objeto de políticas nacionais abrangentes e é também, especificamente, associada às políticas de Ciência e Tecnologia, nas primeiras articulações para um posicionamento estratégico na sociedade da informação (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 1999; LEMOINE, 1978). Só em meados da década de 1980 -portanto cerca de trinta anos após a informação ter-se tornado objeto de interesse científico .começou a ganhar visibilidade na literatura o tema da gestão ou do gerenciamento da informação, assim nomeado. Três significativos depoimentos, contemporâneos a esse processo, datam o momento. O primeiro, de Levitan (1982), responsável pela primeira das resenhas da ARIST – Annual Review of Information Science and Technology, publicação da American Society for Information Science (ASIS) – sobre o tema, cobrindo o período 1979-1981, relacionando cerca de 200 títulos, que registra: A década de 80 está revelando problemas que refletem a convergência entre profissionais da ciência da informação, das tecnologias da informação e de gestão na busca de respostas à ampla necessidade de gerenciar informação como um recurso (LEVITAN, 1982, p. 227). O segundo, de Lytle (1986, p. 310), autor da segunda resenha da ARIST sobre o assunto, que afirma: “[...] em 1985 se pode declarar que ‘informação seja um recurso Inf. Inf., Londrina, v. 17, n.2, p. 172 – 187, maio/ago. 2012. http://www.uel.br/revistas/informacao/ Ana Maria Barcellos Malin O campo profissional da gestão da informação. valioso’ sem chamar muita atenção. Em 1980, essa seria uma afirmação considerada estranha”. O terceiro, de Davenport (1998), um dos autores que ganhou mais destaque no campo da Gestão da Informação, conta que foi em 1986, após escutar uma sugestão para que uma empresa tivesse como assinatura de marketing “consultoria em administração da informação”, que pela primeira vez especulou “sobre a possibilidade de gerenciar informação em vez de tecnologia”. A validação desse período como o do surgimento do interesse pela noção de gestão da informação é confirmada por outros autores da área (BRUSSARD, 1988; BURK; DANTE, 2008; HORTON, 1988), ainda que se apontem antecedentes mais remotos (BARBOSA, 2008). Foi do Estado a vanguarda na condução do desenho do conceito de GI. Na primeira das resenhas da ARIST, Levitan (1982) relata que a maioria da literatura trata do campo governamental, com raras análises do ponto de vista empresarial. Já na segunda resenha, a tríade informação-organização-business é extensamente abordada por Lytle (1986) e são introduzidos vários autores do mundo gerencial e empresarial, tais como Horton, Drucker, Porter e Power, dentre outros. A formação do conceito de gerenciar informações ganha grande ressonância quando o Governo Federal dos EUA, em 1985, institucionaliza em lei a noção de que “informação em si” é gerenciável, através do conceito de Information Resources Management (IRM)1 e institui diretrizes e funções em cada uma das agências federais. A experiência torna-se posteriormente exemplar para o setor privado (MALIN, 2003). Certamente que desde as primeiras instituições modernas .sobretudo a partir da expansão do industrialismo capitalista ou socialista .já se dispunha de ferramentas e métodos para lidar com esta ideia que hoje se nomeia informação. O conceito de linha de produção industrial, por exemplo, aplicado ao trabalho com informação dentro das organizações – e correspondente à administração burocrática .foi um modelo de 1 IRM sendo “planejamento, orçamento, organização, coordenação, treinamento e controle relacionados à informação e aos recursos associados, como pessoal, fundos financeiros, equipamentos e tecnologia” (OFFICE OF MANAGEMENT AND BUDGET, 1985). E, como destaca Brussard (1988), o conceito de IRM, ou GRI – Gestão dos Recursos de Informação – não foi mais do que uma forma de acentuar esta noção da informação como recurso organizacional gerenciável. Inf. Inf., Londrina, v. 17, n.2, p. 172 – 187, maio/ago. 2012. http://www.uel.br/revistas/informacao/ Ana Maria Barcellos Malin O campo profissional da gestão da informação. gerenciamento da informação estável por mais de um século, mas assim não era reconhecido nem nomeado (GIULIANO, 1982). Assim sendo, e parafraseando Drucker (1994), considera-se gerenciar informação uma necessidade recente para tratar de antigas questões. Surgindo como um conceito frouxo, como “ideia, direção e filosofia gerencial” (LEVITAN, 1982), qual é sua realidade atual? Interessa-nos aqui destacar dois pontos, que balizaram a motivação da pesquisa. O primeiro é que além de lidar com a polissemia do termo informação, temos que lidar com a crescente abrangência e polissemia do termo gestão .que passa a ser empregado para expressar um amplíssimo leque de diferentes categorias de agir. Em parte, o avanço do poder gerencial ocorre – como, por exemplo, para Drucker (1994) – pelo explosivo aumento de produtividade que gera no trabalho social e por ser uma função genérica e comum a toda e qualquer organização. Por outro lado, por se manifestar como ideologia gerencialista, isto é, como sistema de organização do poder instrumental, utilitarista e contábil das relações entre o homem e a sociedade que “traduz as atividades humanas em indicadores de desempenho (...) e constrói uma representação do humano como um recurso a serviço da empresa” (GAULEJAC, 2007, p. 33). A confluência dos dois amplos campos de prática e reflexão – informação e gestão – dificulta o reconhecimento dos indícios sobre os modos como a gestão da informação toma parte em áreas específicas da atual vida social. Este cenário conceitualmente ambíguo motivou-nos a buscar uma âncora em indicadores que refletissem o estado atual da gestão da informação nos espaços de trabalho e formação educacional no país. O segundo ponto é a intenção de retomar e conferir uma interpretação a respeito da própria trajetória da GI, mais ou menos explícita, na literatura da Ciência da Informação, que é de seu esvaziamento ou enfraquecimento. As práticas da GI constituíram-se através da incorporação e sobreposição de diferentes estágios: do foco inicial no controle físico de documentos, passando para o suporte nas tecnologias eletrônicas, para chegar ao foco na informação como recurso- chave. Nesse processo ascende na hierarquia organizacional, inicialmente como função de baixo status organizacional e ganha os níveis intermediários para atingir o status de função estratégica (DANTE, 2008; HORTON, 1986). Inf. Inf., Londrina, v. 17, n.2, p. 172 – 187, maio/ago. 2012. http://www.uel.br/revistas/informacao/ Ana Maria Barcellos Malin O campo profissional da gestão da informação. Após um vigoroso processo de experimentos que deixou extensa literatura, o movimento de gerenciar recursos de informação se esvaziou, e os fenômenos parecem ter tomado um rumo que exigia outro tipo de resposta. Para alguns autores tornara-se mais um conceito e uma filosofia do que uma disciplina ou profissão, sendo mais admirável na teoria do que na prática (DAVENPORT, 1997; DONOUHUE, 1985; LYTLE, 1988). Para outros, como Brussard (1988, p. 86), “o esvaziamento do movimento decorreu de uma proposta idealizada, ambiciosa e centralizadora de poder”. A partir de meados da década de 1990, o gerenciamento da informação parece então tomar caminhos caracterizados pela especialização e segmentação (por exemplo, Inteligência Competitiva, para monitorar ambiente externo, Gestão Estratégica da Informação, para apoiar as decisões estratégicas) e transbordamento para práticas gerenciais colaterais (como, por exemplo, Gestão de Processos), ou “para cima”, através da proposição de Gestão do Conhecimento (MALIN, 2006). Outros autores brasileiros da área de CI sinalizam essa inflexão na importância da temática da GI, sentida, sobretudo, a partir do surgimento da proposta Gestão do Conhecimento: Valentim (2008) registra aumento considerável de artigos relacionados à gestão da informação, no período 2001 a 2003, enquanto entre 2005 a 2007 prepondera a temática da gestão do conhecimento; Cianconi (2003) e Barbosa (2008) suspeitaram de um novo “modismo”. Essas interpretações motivaram a busca de indícios sobre tendências atuais, objeto do presente trabalho. Foram os objetivos de ancorar a conceituação abrangente e polissêmica do campo de estudos da GI em instituições empíricas e de identificar tendências atuais no Brasil que motivaram a pesquisa empírica. Complementarmente, a pesquisa também monitorou tendências relativas à Gestão do Conhecimento na web brasileira, com alguns resultados sendo aqui apresentados somente para compor um pano de fundo comparativo à GI. AS TENDÊNCIAS OBSERVADAS ATRAVÉS DA WEB A metodologia de monitoração usada na web foi da procura formal, quando ocorre uma busca de forma deliberada e planejada por determinada informação sobre um ponto específico do ambiente externo. Nesse caso, a procura pela informação é feita de acordo com metodologias e procedimentos pré-estabelecidos, com o propósito de Inf. Inf., Londrina, v. 17, n.2, p. 172 – 187, maio/ago. 2012. http://www.uel.br/revistas/informacao/ Ana Maria Barcellos Malin O campo profissional da gestão da informação. sistematicamente recuperar determinada informação relevante para apoiar uma decisão específica (AGUILAR, 1967 apud CASTRO, 2007) O estudo foi realizado através da captura diária de notícias na web brasileira que incorporassem as expressões chave “Gestão da Informação” e “Gestão do Conhecimento”, através do mecanismo automático de busca do Alerta Google2, durante 10 meses -entre agosto de 2009 e maio de 2010. O Alerta Google envia automaticamente e-mail ao usuário do serviço quando o motor de busca do Google encontra novos resultados para os termos de pesquisa cadastrados. Esse procedimento gerou o recebimento de 1.452 notificações, que correspondem ao universo pesquisado. O volume mensal de notificações recebidas cresceu em 425%, entre agosto de 2009 (67 notícias) e maio de 2010 (285 notícias), refletindo a crescente quantidade de informações digitais disponibilizadas através da web sobre os dois temas, conforme apontado na Figura 1. Registra-se também um equilíbrio entre o número de notificações enviadas segundo as duas expressões pesquisadas, sendo que “Gestão da Informação” foi responsável por 53% das notícias recebidas (775), ante 47% (677) para “Gestão do Conhecimento”. 2 O Alerta Google funciona como um segmentador de dados textuais, utilizando técnicas de mineração de textos para agrupamento ou divisão de um conjunto de dados. A cada conjunto de palavras-chave digitado o Google pesquisa em seu índice as páginas de sites relacionadas ao termo informado (SEO MARKETING -MARKETING PARA GOOGLE, 2010). Inf. Inf., Londrina, v. 17, n.2, p. 172 – 187, maio/ago. 2012. http://www.uel.br/revistas/informacao/ Ana Maria Barcellos Malin O campo profissional da gestão da informação. Figura 1: Notificações do Google: total e segundo categorias Gestão da Informação (GI) e Gestão do Conhecimento (GC) -acumulado mensal. Fonte: Elaborado pela autora. As notificações constantes do corpo do email enviado diariamente pelo Google tiveram seu texto analisado, sendo selecionadas aquelas com assuntos relacionados às categorias3 Mercado de Trabalho (Cargos e Vagas) e Educação (Graduação, Pós- graduação estrito senso, Pós-graduação lato senso). Foi então conferido o status ativo do hiperlink da fonte da notícia original e confirmada sua pertinência aos critérios da pesquisa. Validados tais quesitos, a notificação foi arquivada no site da pesquisa onde a amostra que é objeto deste trabalho pode ser consultada. As categorias monitoradas .Educação e Mercado de Trabalho corresponderam a cerca de 12% do total de notificações recebidas, no período, através do Alerta Google. Os restantes 88% referiam-se a notícias sobre eventos, congressos, palestras, discussão em blogues, artigos, oferta de serviço, venda e propaganda de produtos e serviços. Os resultados obtidos através dessa monitoração apontam para o amadurecimento em que se encontra a constituição de um “mandato de conhecimento” para a área, entendido por Halliday (1987 apud FREIDSON, 1995, p. 7) como a capacidade de uma profissão exercer influência em virtude da substância, forma, 3 Para detalhamento da conceituação das categorias ver MALIN (2010) e site da pesquisa www.ogimonitorandoagora.wordpress.com. Inf. Inf., Londrina, v. 17, n.2, p. 172 – 187, maio/ago. 2012. http://www.uel.br/revistas/informacao/ Ana Maria Barcellos Malin O campo profissional da gestão da informação. transmissão, objetos e legitimidade de seu núcleo cognitivo. “Trata-se de uma permissão epistemológica de influência pública [...] mediada pela política ocupacional e organizacional”. Senão, vejamos: No campo educacional, a institucionalização do corpo de qualificações e conhecimentos necessários à profissionalização se materializa através de seis Bacharelados em Gestão da Informação operando no país, sendo quatro em Universidades Federais, conforme indicado no Quadro 3. Se considerado que o reconhecimento do primeiro Bacharelado em Gestão da Informação ocorreu em 2004, na Universidade Federal do Paraná, os últimos anos mostram franca consolidação de tendência. Quadro 2: Cursos de Graduação em Gestão da Informação identificados a partir de notificações do Alerta Google no período de agosto/2009 a maio/2010. Curso Instituição/ vinculação Bacharel em Gestão Informação da Universidade Federal de Goiás -UFG Vinculação – Depto Informática/ Instituto de Informática Bacharel em Gestão Informação da Universidade Federal de Pernambuco -UFPE Vinculação – Depto Ciência da Informação Bacharel em Gestão Informação da Universidade Federal do Paraná -UFPR Vinculação -Departamento de Ciência e Gestão da Informação Bacharel em Gestão Informação da Universidade Federal de Uberlândia -UFU Vinculação – Faculdade de Administração e Negócios Bacharel em Gestão Informação e Gestão Conhecimento da do UNIFEMM Centro Universitário de Sete Lagoas – MG Vinculação – Ciências Sociais Aplicadas em Organizações Bacharel em Administração Gestão da Informação -UNIME – Bahia Vinculação – Faculdade de Administração Fonte: Malin ( 2010). Por outro lado, as vinculações departamentais das graduações nas instituições de ensino superior mostram que o desenho original da GI formado a partir da Ciência da Informação, da Administração e Tecnologia da Informação se mantém. Dentre os cursos identificados, três possuem vinculação na estrutura acadêmica com as Ciências da Administração (ADM); dois com a Ciência da Informação (CI) e um com Informática (TI). Inf. Inf., Londrina, v. 17, n.2, p. 172 – 187, maio/ago. 2012. http://www.uel.br/revistas/informacao/ Ana Maria Barcellos Malin O campo profissional da gestão da informação. Em relação aos cursos de pós-graduação, foram identificados cinco cursos contendo Gestão da Informação no título, sendo somente um estrito senso (Mestrado Profissional da Universidade Estadual de Londrina), conforme abaixo indicado. Quadro 3: Cursos de Pós Graduação em GI. Nome do curso Instituição Mestrado Profissional em Gestão da Informação Universidade Estadual de Londrina -UEL MBA em Gestão de Informação Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) MBA em Gestão da Informação e Business Intelligence Universidade Salvador (UNIFACS) Master em Gestão da Informação Digital e do Conhecimento Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) Gestão da Informação (Business Intelligence) Universidade Anhembi Morumbi Fonte: Elaborado a partir de Malin et al. (2010). Uma análise das grades curriculares dos cursos, que não foi objeto desta pesquisa, é necessária para explorar e identificar as diferentes tônicas disciplinares. Correspondendo a essa oferta de formação educacional, foram recebidas notícias apontando a existência de postos de trabalho e cargos. Destacamos a realização, no período observado, de três concursos abertos para titulação em Gestão da Informação: por Itaipu Binacional e pela Embrapa (para Bacharel em Gestão da Informação) e pelo Instituto Jones dos Santos, do Governo do Espírito Santo (titulação mínima de Mestrado em Gestão da Informação e Informática). Para completar este cenário, existiram notificações com referências a cargos titulados como de GI em vários níveis da estrutura hierárquica organizacional do setor público, conforme relacionado no quadro abaixo. Cabe destacar que não foram recebidas notificações relacionadas à existência de cargos em empresas privadas. Inf. Inf., Londrina, v. 17, n.2, p. 172 – 187, maio/ago. 2012. http://www.uel.br/revistas/informacao/ Ana Maria Barcellos Malin O campo profissional da gestão da informação. Quadro 4: Cargos com Gestão da Informação em seus títulos. Cargos de Coordenador TRE -Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins Sudene-Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste CAP -Conselho de Atividade Portuária de Paranaguá MDS -Ministério do Desenvolvimento Social SMS -Secretaria Municipal de Saúde de Salvador TRT -Tribunal Regional Eleitoral de Tocantins Cargos de Gerente BHtrans – Sistema de Transporte de Belo Horizonte -Prefeitura de Belo Horizonte Prefeitura de Curitiba Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) Cargos de Superintendente Governo do Estado do Mato Grosso do Sul Secretaria do Planejamento e Desenvolvimento do Governo do Estado de Goiás Secretaria Estadual de Fazenda de Campo Grande, Mato Grosso do Sul Cargo de Secretário Sagi -Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação do Ministério do Desenvolvimento Social Cargo de Diretor Banrisul – Banco do Estado do Rio Grande do Sul Fonte: Elaborado a partir de Malin et al. (2010). CONCLUSÃO O estudo realizado aponta resultados qualitativos sobre o estado da arte da Gestão da Informação no Brasil, revelando indícios sobre os modos como a GI toma parte em áreas específicas da nossa atual vida social e sobre o elevado estágio de sua institucionalização – desde a educação até o mercado de trabalho. Os resultados também expressam tendências que refletem uma abordagem multidisciplinar no ensino e uma estruturação do mercado de trabalho a partir dos cargos, vagas e concursos promovidos pelo setor público no Brasil, confirmando a característica de relevância e pioneirismo dessa prática no Estado (JARDIM, 1998; MALIN, 2003). Desta forma, contribui para a pesquisa em Ciência da Informação propondo uma agenda de questões a ser aprofundada. Por exemplo, ao se tomar por base o roteiro de questões propostas pelas Bases Conceituais para a Classificação Brasileira de Ocupações: qual o nível de Inf. Inf., Londrina, v. 17, n.2, p. 172 – 187, maio/ago. 2012. http://www.uel.br/revistas/informacao/ Ana Maria Barcellos Malin O campo profissional da gestão da informação. competência requerido (complexidade, amplitude e responsabilidades) para a profissão? Qual domínio da competência requerida (contexto do trabalho, área de conhecimento, função, processo produtivo, atividade econômica) para a profissão? (BRASIL, 2003). Ou investigar os currículos dos cursos levantados pela pesquisa buscando conhecer seu corpo de conhecimento, sua esfera de autoridade e as esferas institucionais onde pode ser aplicada (FREIDSON, 1995). Ou, ainda, reavaliar o ambiente de informações vigentes no Estado brasileiro, diagnosticado por autores da área como historicamente caótico e opaco, à luz do leque de cargos aí encontrados (JARDIM, 1998; MALIN, 2003). A constatação do processo de criação de um novo “mandato de conhecimento” no território do capital e trabalho intelectual, aqui identificada, deve construir condições para o avanço do campo científico e também da sociedade em geral, e, em especial, para as necessidades de coordenação social do Estado brasileiro, dada a expressividade dos resultados obtidos neste campo. REFERÊNCIAS BARBOSA, R. R. Perspectivas profissionais e educacionais em biblioteconomia e ciência da informação. Ciência da Informação, Brasília, v. 27, n. 1, p. 53-60, jan./abr. 1998. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/ci/v27n1/07.pdf >. Acesso em: 13 jul. 2010. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Classificação Brasileira de Ocupações. 2002. Brasília: MTE, 2003. Disponível em: .Acesso em: 4 jul. 2010. BRUSSARD, B. K. Information resource management in the public sector. Information & Management, North-Holland, n. 15, 1988. BURK, C. F.; HORTON, F. W. 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Results: The results also indicate trends in multidisciplinary teaching approaches as well as labor market structuring coming from positions, vacancies and civil service exam promoted mainly by the public sector in Brazil. Conclusions: Concludes on the need for Information Science to examine and deepen the researches on questions arising from these trends in Brazilian society, both in relation to educational and professional, as to the connection between information management and governance in the country. Keywords: Information Management. Vocational Training. Labour Market. Public Sector. Título El campo profesional de la gestión de la información Resumen Introducción: La gestión de la información, abordaje tardio de la información como objeto de interés, hoy se materializa, en Brasil, como un campo profesional, tanto del punto de vista educacional como ocupacional. Tornándose clave para el mercado de trabajo, consolida un mandado de conocimiento. Objetivo: Identificar a las instituciones concretas relacionadas al actual campo educacional y profesional de la Gestión de la Información en Brasil. Procedimientos metodológicos: Los indicadores de tendencias en ese sentido fueron obtenidos de investigación exploratorio realizado a través de una búsqueda sistemática y formal en la web brasileña. Resultados: Los resultados apuntan las tendencias de abordaje multidisciplinar en la enseñanza y de estructuración del mercado de trabajo a partir de los cargos, vacantes y concursos promovidos, sobretodo, por el sector público en Brasil. Conclusiones: Concluye sobre la necesidad de la Ciencia de la Información inclinarse y ahondarse a la investigación sobre cuestiones derivadas de esas tendencias en la sociedad brasileña, tanto en relación a la formación educacional y profesional como en lo que respecta la relación entre gestión de la información y gestión pública en el país. Palabras clave: Gestión de la Información. Formación Profesional. Mercado de Trabajo. Brasil Recebido em: 15/10/2012 Aceito em: 02/12/2012 Inf. Inf., Londrina, v. 17, n.2, p. 172 – 187, maio/ago. 2012. http://www.uel.br/revistas/informacao/